O presente ensaio reconstrói um conceito que até então tem recebido pouca atenção: o conceito de ‘über-europäisch’, de Nietzsche, (‘supraeuropeu’), em que a Europa é o que tem de ser superado, ultrapassado, deixado para trás. O filósofo já considera Assim falou Zaratustra como uma tentativa de uma “visão panorâmica oriental da Europa”, mas somente após este poema concentra suas reflexões no ‘supraeuropeu’. Seus ‘bons europeus’ não devem ser apenas ‘supranacionais’, mas finalmente ‘supraeuropeus’, ou seja, eles devem ser capazes de, pelo menos ocasional e temporariamente, transcender o horizonte da cultura ocidental. Neste contexto Nietzsche elabora sua crítica da moral europeia após Zaratustra. Ele vê na história da Europa, se não uma tradição de superação de limites, pelo menos alguns indivíduos isolados que, por vezes, têm desenvolvido uma forma supraeuropeia de pensar, e define, por sua vez, a tarefa de uma “visão supraeuropeia da Europa”. Há algumas razões para que se duvide se ele realmente conseguiu isso, mas sua tentativa pode ser considerada como um modelo do olhar à distância sobre o pensamento ocidental, o qual continua a ser um desafio para a própria Europa. The present essay reconstructs a concept that up until now has received little attention: Nietzsche’s concept of ‘über-europäisch’, (‘supra-European’, ‘over-European’), where Europe is what has to be overcome, gone beyond, left behind. The philosopher already considers Thus Spake Zarathustra as an attempt at an ‘oriental overview of Europe’, but only after this poem do his reflections concentrate on the ‘supra-European’. His ‘good Europeans’ should not only be ‘supra-national’, but finally ‘supra-European’, i.e., they must be able, at least occasionally and temporarily, to transcend the horizon of Western culture. This is the turn Nietzsche gives to his critique of European morals after Zarathustra. In European history he sees, if not a tradition of overcoming boundaries, at least some isolated individuals who at times have approached a supra-European way of thinking, and sets himself the task of a ‘supra-European view of Europe’. There are e few reasons to doubt whether he really accomplished it, but his attempt can be considered one model of the distant view on Western thought that remains a challenge for Europe itself.
Europeu e Supraeuropeu: o olhar à distância de Nietzsche
Brusotti, Marco
2016-01-01
Abstract
O presente ensaio reconstrói um conceito que até então tem recebido pouca atenção: o conceito de ‘über-europäisch’, de Nietzsche, (‘supraeuropeu’), em que a Europa é o que tem de ser superado, ultrapassado, deixado para trás. O filósofo já considera Assim falou Zaratustra como uma tentativa de uma “visão panorâmica oriental da Europa”, mas somente após este poema concentra suas reflexões no ‘supraeuropeu’. Seus ‘bons europeus’ não devem ser apenas ‘supranacionais’, mas finalmente ‘supraeuropeus’, ou seja, eles devem ser capazes de, pelo menos ocasional e temporariamente, transcender o horizonte da cultura ocidental. Neste contexto Nietzsche elabora sua crítica da moral europeia após Zaratustra. Ele vê na história da Europa, se não uma tradição de superação de limites, pelo menos alguns indivíduos isolados que, por vezes, têm desenvolvido uma forma supraeuropeia de pensar, e define, por sua vez, a tarefa de uma “visão supraeuropeia da Europa”. Há algumas razões para que se duvide se ele realmente conseguiu isso, mas sua tentativa pode ser considerada como um modelo do olhar à distância sobre o pensamento ocidental, o qual continua a ser um desafio para a própria Europa. The present essay reconstructs a concept that up until now has received little attention: Nietzsche’s concept of ‘über-europäisch’, (‘supra-European’, ‘over-European’), where Europe is what has to be overcome, gone beyond, left behind. The philosopher already considers Thus Spake Zarathustra as an attempt at an ‘oriental overview of Europe’, but only after this poem do his reflections concentrate on the ‘supra-European’. His ‘good Europeans’ should not only be ‘supra-national’, but finally ‘supra-European’, i.e., they must be able, at least occasionally and temporarily, to transcend the horizon of Western culture. This is the turn Nietzsche gives to his critique of European morals after Zarathustra. In European history he sees, if not a tradition of overcoming boundaries, at least some isolated individuals who at times have approached a supra-European way of thinking, and sets himself the task of a ‘supra-European view of Europe’. There are e few reasons to doubt whether he really accomplished it, but his attempt can be considered one model of the distant view on Western thought that remains a challenge for Europe itself.I documenti in IRIS sono protetti da copyright e tutti i diritti sono riservati, salvo diversa indicazione.